domingo, 9 de outubro de 2011

Um cavalheiro chamado Pedro Américo Leal

Sabe aquela cena de um filme que você viu um dia e nunca mais esqueceu, porque achou simples ou marcante demais, e, de repente, se vê nela e sente que aquele momento que está acontecendo vai se tornar algo fora de série, algo que ficará nos seus guardados do coração?
Pois foi exatamente assim a minha manhã de sexta-feira.
Pedro Américo Leal, meu pai, dono de um cavalheirismo único, aos 87 anos, surpreendeu-me mais uma vez. 
Acompanhe os fatos: eu havia combinado de buscá-lo às 9h para irmos juntos ao Partido Progressista Estadual, onde tinha um evento para novas filiações.
Como esse compromisso era só às 11h, minha intenção era levá-lo para passear pelos arredores do Centro Histórico, que sei que ele gosta muito, e, depois, tomar um saboroso café  para colocar os assuntos em dia.
Na hora marcada, estacionei meu carro na garagem do edifício dele e vi que já estava de prontidão, me aguardando. Por um momento, fiquei observando a figura que vinha na minha direção. Estava impecavelmente bem vestido, como de costume.
Conheço a pontualidade do coronel, pois trabalhamos juntos por doze anos e acho que foi daí que peguei o rigor com o cumprimento dos horários. 
Então, seguimos para o centro e fiz o caminho que ele gosta, para que apreciasse as casas e prédios antigos em contraste com as novas construções: desci um pedaço da rua Casemiro de Abreu, peguei a Coronel Bordini até a Avenida 24 de Outubro, parei na esquina da Vila Jardim Cristhofel, onde moramos na minha adolescência e analisamos as mudanças do bairro. Abriram-se as comportas do tempo e recordamos o passado.
Feito isso, desci a rua Ramiro Barcellos e entrei na Alberto Bins. Pronto, estávamos no fervo do centro da capital. Fui devagarzinho, sem pressa, pois a minha manhã era do meu pai.
Chegando na rua Duque de Caxias, estacionei o carro na frente da Assembléia.
Assim que alcançamos a calçada, meu pai me ofereceu o braço e saímos a passear pela Praça da Matriz. Eu que achei que iria conduzi-lo pelas ruas, fui maravilhosamente conduzida por um cavalheiro a moda antiga.
Que coisa boa viver esse glamour! E não ficou por aí não.
Quase em frente a Catedral Metropolitana havia um silencioso vendedor de flores, sim, é isso mesmo, silencioso, porque ele não oferecia aos gritos suas rosas, apenas as tinha expostas na lona verde desbotada que cobria uma parte do chão.
Meu pai parou próximo ao vendedor e apontou para um ramalhete de rosas cor de rosa e disse: “meu senhor, por favor, alcance-me essas flores que eu quero dar de presente para  minha filha”.
O homem, que tinha uma pele castigada pelo sol, retribuiu com um largo sorriso a gentileza das palavras e a venda que acabara de fazer,dizendo:“É...os tempos são outros, mas as mulheres continuam gostando de flores”.
A famosa sabedoria popular! Sim, esse vendedor tem razão!
Eu sai dali feliz da vida com o meu buquê de rosas.
Caminhamos mais um pouco e logo fomos parados pelo soldado Da Luz, da Brigada Militar, que reconheceu meu pai e fez questão de cumprimentá-lo. Enquanto caminhávamos, meu pai ia cumprimentando a todos com um animado “Bom dia” e recebia de volta a mesma saudação. O curioso é que muitas eram ditas de forma animada e outras, surpresa, mas ninguém, ninguém mesmo, deixou de retribuir.
Lá pelas tantas eu comentei que ele conhecia muita gente e recebi de pronto essa resposta: “Nem todo mundo que cumprimentei eu conheço. Saudar  pessoas conhecidas é uma regra básica da etiqueta e saudar quem não conhecemos é um ato de generosidade que devemos praticar sempre". 
Minha nossa, meu pai com o seu gesto simples, espalhou alegria por onde andou. 
Depois sentamos em um dos bancos da Praça e contemplamos os pássaros que cantavam a melodia da primavera. Aproveitamos para conversar. Claro que Torres tomou conta quase que por completo da nossa conversa. É que nós dois adoramos essa praia. O engraçado é que chegamos a conclusão que preferimos Torres fora do veraneio, ou quando estamos nele, mais durante a semana, quando reina a paz.
Saímos dali em direção a Rua da Praia em busca de uma cafeteria, que logo encontramos. Um saboroso café, coisa que eu gosto muito, ainda mais em boa companhia como a dele, que sempre tem muito a me ensinar.
Olhei para o relógio que apontava 10h e 30 minutos, sinal de que tínhamos que iniciar a caminhada até a sede do partido, onde nos aguardava o Coronel Nelson Pafiadache, Ex- Comandante da Brigada Militar do Governo Rigotto, amigo querido, que está retornando ao PP a nosso convite. A sua ficha partidária seria abonada pela Senadora Ana Amélia Lemos.
Havia muitas lideranças progressistas presentes e novos filiados também.
Meu pai fez o maior sucesso no evento. A  Ana Amélia, em sua fala, fez questão de registrar a sua presença e contou da amizade que seu marido e ele tinham. Todos os  pronunciamentos foram na mesma linha. Celso Bernardi, Pedro Bertolucci, Tarso Boelter, Adolfo Britto que representava a bancada de deputados e o Vereador Nedel, a municipal, ressaltaram a sua bela trajetória política e importante contribuição para a formação do partido.
Ainda demoramos um pouco para ir embora quando terminou o evento por conta das fotos que os novos filiados queriam tirar com Pedro Américo Leal, uma lenda viva da política gaúcha que tenho a felicidade de ter como pai e amigo.


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