segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Prazo de validade



Ontem, 27 de janeiro, eu estava em Torres. Cedo da manhã, fui dar a minha caminhada habitual. Caminhando, eu faria a minha despedida, pois seria o meu último dia lá.
No meio do percurso, recebi um telefonema da minha filha, alarmada com a notícia da tragédia em Santa Maria, pois a família do meu genro é toda de lá. Eles já haviam se tranqüilizado ao saber que nenhum parente estava entre as vítimas, mas a tristeza e a preocupação estavam na voz da Juliana.
Aí me dei conta, que naquela manhã, não liguei o rádio quando acordei, coisa que faço todo dia.  Só então me situei nas notícias e dali, passei o dia acompanhando, sem descanso.
O meu sentimento de cidadã foi de extrema tristeza e consternação, mas também de revolta, quando a imprensa começou a tocar nos pontos críticos que facilitaram essa barbaridade, ligados à falta de preparo dos seguranças, ao alvará do estabelecimento vencido, problemas na configuração do espaço físico da boate, o que resultou numa armadilha para aqueles jovens que não conseguiram sair dali.
Como mãe, refleti que nunca pensei que meus filhos pudessem estar correndo risco de vida quando vão a uma casa noturna. Que nunca pedi para verificarem as saídas de emergência. Penso muito mais no perigo do lado de fora, das ruas e das estradas. Nesse caso de Santa Maria, o perigo estava dentro, no espaço da diversão.
Havia perigo de antemão quando seus proprietários permitiam a superlotação da casa e o uso de efeitos pirotécnicos no palco; quando deixaram  vencer o plano de prevenção de incêndio, desde agosto de 2012, e quando as autoridades competentes do município não fiscalizaram o estabelecimento de forma correta, agindo na prevenção. Agora, colhem mais de duzentas mortes e famílias dilaceradas enterrando seus filhos.
Para certas coisas não pode haver exceções, uma segunda chance, vista grossa, e a segurança é uma delas. Segurança não tem prazo de validade. Tem que ser permanente.
E voltando ao domingo, só hoje me lembrei que havia me proposto a registrar no twitter e no Facebook a passagem do Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto, mortas em campos de concentração durante a II Guerra Mundial. A data marca o dia da libertação, em 1945, dos prisioneiros judeus de Auschwitz, o mais conhecido campo de concentração dos nazistas e, assim, se entranha em nossa memória como lembrança para que fatos parecidos nunca se repitam.
Eis que o massacre na boate Kiss me tirou o rumo e acabei não fazendo esse importante registro, que sem querer, transmite sentimentos em comum com o que ocorreu em Santa Maria: impotência, injustiça, indignação e desperdício de vidas.
O 27 de janeiro no Rio Grande do Sul, por sua dramática dimensão, já nos deixa a mesma mensagem – que nunca mais aconteça.





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