domingo, 4 de julho de 2010

"A Guarda Morre, Mas Não se Rende!”

Esse é o“ lema da 1ª Companhia de Guardas, instituição militar que meu pai comandou de 1960 a 1962. Eram tempos difíceis da nossa política, tempos de muitas indefinições. Era o período em que o Brasil viveu em turbulência: o Presidente da Republica Jânio Quadros renunciava ao cargo, deixando o país nas mãos de seu vice-presidente, que não era aceito pela sociedade em geral por causa de seus ideais com tendência à esquerda.
Companhia de Guardas em forma

Companhia de Guardas na formatura

No Rio Grande do Sul, Brizola assumia a liderança de um movimento denominado por seus apoiadores de “Legalidade”, que desejava garantir a posse do novo presidente, João Goulart, seu cunhado. O quadro era de total incerteza. Meu pai, contudo, estava tranqüilo, pois muito se orgulhava de seus comandados e sabia que podia contar com o grupo de valentes soldados da 1a Cia. de Guardas. Tinha sob seu comando o melhor grupamento de soldados, capaz de conter qualquer situação de desordem que se apresentasse, isso porque, através de um Posto de Recrutamento (criado por ele próprio), fazia a seleção dos recrutas para integrarem os quadros da companhia. Eram momentos decisivos na vida tumultuada da história do Brasil e do Rio Grande, e a responsabilidade quanto ao rumo a ser tomado diante da situação vinha inteiramente de seu comando. Contou com o apoio da 1ª Cia. de Guardas, que, desde o inicio dos acontecimentos, mostrou-se avessa a tudo que era montado no Rio Grande do Sul, tendo soldados que expunham sua bravura em defesa da pátria, integrando-se às tropas que seguiam para o Rio de Janeiro, a fim de dominar a rebelião que crescia naquela cidade. Na época, eu era uma criança e não tinha noção dos acontecimentos que me rodeavam, mas tinha a percepção desses fatos. Como exemplo lembro de muitas vezes observar meu pai e, em seu semblante, ver a preocupação estampada. Ouvia-o comentar da necessidade de estar com maior freqüência e tempo na Cia de Guardas, coisa que, para mim, era difícil de entender, mas que eu sabia que significava a sua ausência. Hoje, entendo o quanto meu pai sacrificou a família para cumprir com seus deveres de militar e como lhe foi difícil abrir mão desse convívio. A 1ª Companhia de Guardas, contudo, era um prolongamento do seu círculo familiar e não poderia estar de fora da sua vida, por isso, ela também se integrou ao nosso dia-a-dia. Sei o quanto ela representou na vida militar do meu pai, que, com orgulho, ainda hoje fala desta subunidade a que se dedicou com esmero. Por tudo isso é que foi com um sentimento de muita admiração e confiança que neste final de semana, eu participei da solenidade de comemoração dos 75 anos da 1ª Companhia de Guardas, que é um exemplo de organização militar e orgulho da família verde-oliva brasileira e de sua história, que foi instituída pelo Presidente Getúlio Vargas na nossa Porto Alegre e daqui irradia seu exemplo de ordem, disciplina e comprometimento com a sociedade gaúcha e brasileira. A Companhia de Guardas compõe a sólida Instituição Nacional chamada Exército, que cultiva e ama as tradições, respeita a ética, pratica as virtudes militares e é guiada pelos preceitos morais; que nos ensina e nos emociona em torno de seus símbolos, heróis, feitos e vitórias. Toda Nação que cultiva esses símbolos, capazes de marcar profundamente a formação de seus filhos, desperta sentimentos que permanecem para sempre.

homenageados aguardando o diploma de "amigo da CG"

Desses sentimentos, falo com propriedade, pois como já escrevi no início desta postagem, cresci dentro dessa família chamada Exército e sei o quanto esse convívio foi fundamental para meu aprendizado pessoal e profissional, e que fiquei, desde lá, profundamente marcada e para sempre tocada por tudo que o Exército cultiva e semeia. E pelas comemorações dessa data tão significativa, vendo o exemplo e a trajetória da Primeira Companhia de Guardas, eu queria compartilhar esse sentimento com os leitores do meu blog.


General José Mattos de Marsilca Motta, ex-comandante da CG de 1950 a 1952, recebendo a homenagem

meu pai Cel. Pedro Américo Leal admirando a cerimônia

palanque das autoridades

tenente apresentando seu pelotão ao comandante após a apesentação da "ordem unida sem comando"

Companhia de Guardas com seus pelotões operacionais

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