segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Amizades de verão e para a vida

Na verdade quem movimentava o veraneio eram meus dois irmãos, João Pedro e João Paulo, porque naquela época homem podia tudo e mulher, quase nada, então, eles tinham várias namoradas e muitos amigos, saiam bastante, enquanto que a minha irmã mais velha a Maria Ines, dona de uma beleza de parar o trânsito, era super caseira. Eu, a quarta filha, sonhava em fazer parte da turma dos guris. Essa coisa de ser a do meio me deixava muito braba, porque não tinha idade suficiente para acompanhar os mais velhos e não queria fazer parte do grupo dos miúdos.

O meu reinado era a casa da Maricota, minha madrinha. Viúva de um médico amigo da minha família, ela tinha filhos adultos, então quando eu ia para lá tudo girava ao meu redor. Isso acontecia geralmente aos domingos após a missa das 18h. Eram três filhos homens e uma mulher - a Maria Virginia, que era encantada em mim e eu nela, pois era uma jovem linda e alegre, e eu sonhava em ser como ela quando crescesse. Ela dedicava horas do seu dia penteando os meus cabelos, que eram longos. Tinha dias que ela me maquiava e vestia roupas de gente mais velha, coisa que eu adorava, porque tudo o que eu queria era parecer com mais idade. O legal é que lá eu reinava absoluta, pois quando se tem família grande as normas são iguais para todos, apesar de algumas diferenças na época dos namoros, quando os guris ferviam e as meninas, quando namoravam, tinham que ficar com um “chá de pêra”. Não tinha moleza porque o controle era intenso. Fico pensando que os coitados dos pretendentes tinham mesmo que querer muito namorar uma das filhas do coronel. Tudo que eu mais gostava era quando a Maricota pedia ao meu pai que eu fosse passar uns dias na casa dela. Ele, que a apreciava muito, sempre permitia e eu ia faceira da vida. Tinha um dia da semana em que isso era sagrado e quando acordava, recebia café na cama com pão cortado em pedaços e coberto de mel caseiro. Vem daí o meu gosto por mel. Adoro mel!

Os verões em Torres eram o tempo de conviver com as amigas, eram os sábados na Boate Tatuíra da SAPT com parada obrigatória no trailer de cachorro-quente do amigo Marco Antonio Potthoff, era ir ao cinema e ir na Guarita, o ponto de encontro da turma jovem, onde as meninas lindíssimas faziam os jovens suspirar.
Os anos passaram e eu me casei com 18 anos com um jovem judeu advogado que veraneava em Capão da Canoa. Logo tive meus três filhos Juliana, Marcelo e Felipe, e construímos uma casa na rua dos meus pais, que era para dar continuidade ao veraneio em Torres perto da família. Todos os verões eram esperados pelos meus filhos da mesma forma que eu esperava no passado. Eram os meses deles e só para eles. Eu suspendia todos os meus compromissos para passar as férias com eles e juntos explorávamos Torres e as suas belezas naturais. Passeávamos de dindinho, montávamos a cavalos, fazíamos piquenique e pescávamos. Lembro de um dia em que montei uma barraca no jardim da minha casa para acampar com eles, ainda muito pequenos, e foi uma festa. Nessa época eu tinha uma grande amiga: a Maria da Graça Kómlos que era carinhosamente chamada de Daxa. Ela, uma loira de olhos azuis, muito linda, dona de uma alegria que contaminava a todos, casada com o Pedro Pablo Komlos, amigo do meu marido. Nossas casas eram uma na frente da outra e nossos filhos cresceram juntos. Foram grandes verões até que as crianças tornaram-se adolescentes e a minha amiga faleceu de câncer. Foi a minha primeira perda, senti muito e nunca mais tive uma melhor amiga como ela. Logo depois vendi a casa e comprei o apartamento que é o que estamos até hoje.

Bem, são muitas as histórias e as lembranças e, certamente dariam um livro. O tempo passou, os amigos seguiram as suas vidas, mas os que permaneceram ligados a Torres continuam a tradição através da geração dos nossos filhos e, no meu caso, dos netos - a filha da minha filha, minha primeira neta, Martina, estreou seu primeiro veraneio. Na praia de Torres, é claro.

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